terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Angústia ao fim da tarde

Estava um fim de tarde em tons cinza e sonolento; o tempo escoava-se lentamente, sem sequer ser perceptível que passava; as nuvens pareciam estar imobilizadas há dias, não soprava a mais pequena brisa e nem as folhas das árvores, nem as flores, nem mesmo aquelas nuvens se moviam; mas, talvez contraditoriamente, sentia-se um ar carregado de tensão como se a natureza estivesse prestes a explodir; sentia-se um cheiro que mal se identificava, porque era uma mistura de queimado e podre, o que dava um tom lúgubre àquele fim de tarde.
Naquele momento, ela estava sentada no terraço, com as mãos pousadas nas coxas, tão imóvel como a natureza. A sua cabeça não se mexia, como parecia não se mexerem os olhos e todo o corpo; parecia parte integrante daquela natureza  que se afigurava morta, mas que ameaçava despertar a qualquer momento. Havia uma tal identificação com a natureza que nem as nuvens reflectidas nos seus olhos lhe davam qualquer vida. No entanto, o seu rosto parecia conter a história de toda a sua vida, todos os sentimentos, emoções, lágrimas e risos, vitórias e derrotas; e isso, apesar de parecer confundi-la, dava-lhe uma expressão de coragem inexplicável, como tentando viver tudo o que nunca vivera, sentir o que sempre reprimira, provocar o que sempre calara, experimentar o que antes  achara fútil; mas, repentinamente, o seu rosto crispou-se  e criou uma máscara de medo; medo que fosse tarde, de não ter tempo, de envelhecer precocemente. Estava naqueles pensamentos, quando, lá fora, começou a cair uma chuva miudinha e isso provocou-lhe uma sensação estranha, um aperto no ventre e uma angústia asfixiante. E começou a chorar, devagarinho, em silêncio, como a dizer que compreendia a natureza na sua dor, sentindo que aquela dor as imobilizava, a ela e à natureza.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O que une os homens? A fé ou o laicismo?

A pretensão totalitária do dogmatismo da igreja católica

Na visita pastoral que o papa fez em 2010, a Espanha, declarou perante os bispos: "... laicismo, ideologia que leva gradualmente, de forma mais ou menos consciente, à restrição da liberdade religiosa, promovendo o desprezo ou a ignorância pelo que é religioso, relegando a fé para a esfera dos interesses  privados, retirando-lhe o carácter da sua verdadeira expressão pública e colectiva."

Na mesma viagem, o papa, entre outras, fez a seguinte afirmação: "viver sem deus é como viver sem sol".

Não me quero alongar em comentários, mas, como ateu e laicista, só denuncio a pretensão totalitária do dogmatismo religioso, neste caso da igreja católica, que cultiva e incute o princípio de que a felicidade, o bem, o amor, em suma, todos os valores positivos estão do seu lado e naqueles que a seguem. Os outros, os infiéis, são uns infelizes que se arrastam sem fé e sem esperança, ao longo desta triste vida (enquanto não são, por eles, convertidos).

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Boletim paroquial!! O que é isso?

Da folha semanal inter-paroquial de Eirol e N. Sra. de Fátima: "o ateísmo é uma atitude adoptada por alguma gente, quer por ignorância, quer por falta de investigação séria. É que o ateísmo torna a vida mais fácil, sem contas a prestar pelo bem ou pelo mal, sobretudo para estes."

Este boletim não foi publicado em 1498, mas em 27/06/2010.
Gostei especialmente da expressão "por alguma gente", mas não percebi se essa gente também será filha de deus.
Mas também gostei daquela da "investigação séria". Já estou cansado de ver cristãos a investigar (seriamente) para fundamentar a sua fé. Desculpem-me os meus amigos cristãos.
Voltarei a este artigo proximamente. Esta pérola merece.